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Natal

Minha família sempre amou natais, a festa preferida de minha mãe, de minha avó e de minha bisavó antes delas. Nossos natais sempre foram muito alegres, com muita gente, muita comida e muitos presentes. Minha avó enfeitava a casa toda e montava um enorme presépio com montanhas feitas de pó de mica e grude, sob um céu de pano azul estrelado. À meia-noite do dia 24 o Menino Jesus era solenemente acomodado na manjedoura enquanto a família cantava “noite feliz” num desafino de dar dó.

Minha tia Letícia mantém acesa a tradição da família, recebendo os irmãos e sobrinhos para a ceia igual à que minha avó fazia, com direito ao mesmo presépio e à mesma cantoria.

Minha mãe, por sua vez, montava grandes árvores de natal com os enfeites que amealhou ao longo dos anos. Eram árvores de até 4 metros de altura, que enfeitavam as embaixadas por onde passou. Nunca vou esquecer, por exemplo, da árvore que ela montou na frente do janelão do Palazzo Pamphilj em Roma, que, toda acesa à noite, podia ser vista da Piazza Navona emoldurada pelos afrescos barrocos de Pietro da Cortona.

Minha mãe já se foi há quatro anos. E este ano, o primeiro que meu pai não está mais conosco, decidimos disponibilizar uma parte desses enfeites para nossas clientes, e reverter a renda obtida com sua venda para o Lar dos Velhinhos São José, instituição que abriga mais de 60 idosos, a que minha mãe tanto se dedicou nos últimos anos de sua vida. Uma forma que encontramos de homenagear D. Lucia. Acredito que ela iria gostar.


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