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A camisinha Deus me abençôe

Atualizado: 6 de ago. de 2020

Uma camisinha de pagão, tradição de família.


Já falei antes da minha avó Beatriz. Ela viveu 98 anos, mãe e dona de casa. Teve nove filhos, 20 netos e outros tantos bisnetos. Então, tenho que admitir que a sua vida não foi de grandes aventuras. Mas ela era dessas pessoas que a gente só percebe o quanto era especial depois que a gente vive, e vive e por onde passa procura e não acha um exemplo de vida como a dela.


Bom, além de criar nove filhos, e de se dedicar a todas as tarefas da casa com um zêlo que eu nunca vi igual, uma das coisas que minha avó fazia divinamente era bordar, e o bordado ocupava uma parte grande do seu pequeno universo.


Na casa dela, quando eu era pequena, tinha uma bordadeira, a Lourdes, que ficava lá no quartinho de costura bordando com minha avó os enxovais da família. Meu enxoval mesmo, quando eu casei, foi quase todo feito pelas duas. De jogos americanos, alguns romanticamente para dois, outros para grandes jantares, toalhas de mesa, avental de organza, até a capa de liquidificador de matelassê combinando com a capa do meu caderno de receitas, eu até hoje guardo com carinho tudo o que uma dona de casa de antigamente podia precisar.


Enquanto viveu, minha avó bordou para o nascimento de todos os filhos, netos e os bisnetos uma camisinha de pagão muito pequenininha, que servia praticamente só para o dia do nascimento, onde estava bordado no peito “Deus me abençôe”, assim mesmo, com acento circunflexo. Grafia antiga. Em cambraia casca de ovo que não existe mais. Me arrependo de não ter perguntado a ela a origem dessa camisinha. Devia ter alguma historinha de família por trás que agora se perdeu no tempo.


Pusemos a camisinha que foi de minha filha Maria Beatriz em um quadrinho na loja. E cada vez que eu olho para ela, é como se minha avó e tudo que ela representava estivessem lá, me abençoando.


Postado por Isabel


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